Nesta quinta-feira (17), foram anunciados os finalistas do Prêmio Nacional de Inovação (PNI), considerado o maior prêmio na temática do País, que tem como principal objetivo o incentivo e o reconhecimento às pessoas, aos ecossistemas e às empresas e instituições que promovem a inovação Brasil afora. Da lista, apenas uma empresa paranaense foi classificada – e ela é de Foz do Iguaçu, região oeste paranaense. A Oficina do Sorvete é finalista da modalidade pequenos negócios, categoria “inovação em sustentabilidade”.
Segundo a proprietária da empresa, Maria Cristina Ventura Muggiati, desde a fundação da empresa, sustentabilidade, inovação e preservação da natureza sempre nortearam as ações, mas foi em 2019 que ela conseguiu colocar tudo isso em um único projeto. Cristina afirma que a empresa planejou uma linha de produtos “Quilômetro Zero”, uma das recomendações do protocolo de Kyoto, e divulgou para outros negócios esse conceito que utiliza na fabricação insumos locais, produzidos perto de quem vai consumir o produto, trazendo benefícios importantes ao planeta e estimulando a economia local, através da geração de emprego e renda.
Os sabores da Mata Atlântica
A partir disso, observando as espécies de árvores nativas da Mata Atlântica da região do Iguaçu, algumas delas em extinção, ela teve um insight e decidiu testar novos sabores a partir dos frutos de algumas dessas árvores. Coincidiu que nesse momento surgiu uma demanda de produtos com essas características, proveniente de uma empresa local, também empenhada na preservação da natureza, o Parque das Aves. Nesse contexto, depois de vários testes, surgiu a linha Sabores de Iguaçu, que conta com um catálogo de 12 picolés feitos com frutas nativas presentes na região do Parque Nacional do Iguaçu, como jabuticaba, amora com leite condensado, jaca, butiá com leite condensado, açaí de juçara com banana, guabiroba, pinhão, erva mate, doce de banana, MBeju com goiaba, uvaia e pitanga com leite condensado.
Sorvetes da linha Sabores do Iguaçu respeitam a época de cada fruta utilizada e são produzidos de forma sustentável, alimentando todo um sistema que também apoia a sustentabilidade.
Além dos sabores, outro diferencial da linha é que para a criação das receitas, Cristina estabeleceu parcerias com produtores locais para incentivar o plantio de mudas nativas por meio do sistema de agrofloresta, mediante a criação de demanda. Sustentável, economicamente viável e socialmente correto, o projeto tem como principal objetivo incentivar e divulgar o sistema agroflorestal que recupera a terra por meio do plantio de diferentes espécies ao mesmo tempo.
“É um trabalho de conscientização e incentivo para que os agricultores voltem a plantar essas árvores e deixem viver aquelas que nascerem de forma espontânea. E percebemos que podemos dar uma contribuição a mais e, agora, guardamos as sementes das frutinhas que processamos para fazer a germinação delas e distribuir as mudas para os produtores rurais de agroflorestas”, explica.
Desse modo, é possível tentar reverter o processo de extinção daquelas árvores nativas e a extinção em cadeia de espécimes da fauna e flora, que ocorre na sequência.
Maria Cristina com o Sr. Otavio e dona Salete, que são produtores de agrofloresta e parceiros no projeto. Crédito: Filipe Lafuente.
As ações de inovação e sustentabilidade, no entanto, não pararam por aí. A empresária desejava que os sorvetes fossem muito mais que alimento e servissem, de alguma forma, como elementos para uma experiência completa. Nesse sentido, além das frutas nativas, a linha conta com picolés que contam uma história.
“O MBeju, por exemplo, é uma comida típica e simbólica do Paraguai, e o sabor Erva Mate divulga a técnica gastronômica do “cocido quemado”, bebida muito tradicional no Paraguai e Argentina. Também lançamos um QR Code e o cliente consegue fazer uma imersão na mata e nas histórias”, conta e sugere que para completar a experiência, é só sentir o sabor através do picolé.
A linha Sabores do Iguaçu respeita a época de cada fruta para a produção dos sorvetes e adota práticas de fair trade. O objetivo é buscar a certificação para ajudar na valorização do agricultor, de forma que ele seja bem remunerado.
O consultor do Sebrae Paraná, Emerson Durso, acompanhou o processo na empresa, destaca que a inovação da empresária é incorporada em vários sentidos e, por isso, ser finalista no Prêmio Nacional de Inovação é um incentivo ainda maior para que continue empregando esforços nessa área.
“A Cristina entende que um negócio precisa ser sinérgico em todas as áreas. O objetivo não é somente financeiro e envolve meio ambiente e pessoas. Ela tem um olhar muito focado nisso. Tudo que ela se compromete a fazer, tem sempre um extra. Ela realmente merece essa indicação e esperamos que possamos celebrar a conquista do primeiro lugar em breve”, torce Emerson.
A Oficina do Sorvete é a única empresa paranaense classificada como finalista do Prêmio Nacional de Inovação. A indicação é na modalidade Pequenos Negócios, categoria Inovação e Sustentabilidade. A empresa de Foz do Iguaçu também já venceu um edital de inovação do Sesi/Senai e foi finalista no Prêmio Finep de Inovação. No histórico, foi uma das primeiras do Paraná a conquistar o Selo Alimentos do Paraná, em 2015 (sendo que mantém o Selo até hoje, sempre com pontuações altas); faz parte da vertical de alimentos, participou do Tech by Sebrae e do Programa Brasil Mais, ciclos 2017 e 2018.
O PNI é uma realização da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Sebrae com apoio de vários parceiros. O resultado será divulgado no próximo dia 8 de março, a partir das 19 horas, pelo Canal da CNI no Youtube.