Inhotim – Nova programação – 2022

Inhotim – Nova programação – 2022

Em parceria com IPEAFRO, o Instituto inaugura ainda o Segundo Ato de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, com exposição que aborda as origens do museu através do Teatro Experimental do Negro, iniciativa criada por Abdias 

Inhotim inaugura no fim de maio novas obras e exposições temporárias. Dia 28 marca a abertura da temporada, que traz Isaac Julien, importante nome nos campos da instalação e do cinema, convidado a expor um de seus trabalhos mais emblemáticos na Galeria Praça. O Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o público as obras recém-integradas à coleção, inaugura com trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins e Laura Belém, ambos instalados em áreas externas do Instituto.

Jaime Lauriano também integra a lista dos artistas participantes da programação, e abre o projeto Inhotim Biblioteca, que vai convidar, anualmente, artistas e pesquisadores que estabeleçam diálogos com a biblioteca do Instituto. A instalação do artista mantém relação direta com o Segundo Ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (MAN), ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim.

Instalado na Galeria Mata, o Segundo Ato do projeto, realizado, assim como o Primeiro Ato, em curadoria conjunta entre Inhotim e IPEAFRO, aborda o Teatro Experimental do Negro, movimento encabeçado por Abdias Nascimento, e que está nas origens do Museu de Arte Negra.

As inaugurações são parte do Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Instituto no biênio de 2021 e 2022, pensada para debater e refletir a função da arte nos territórios a níveis local e global, e também a relação das instituições com seu entorno, mirando os desdobramentos de um museu e jardim botânico como o Inhotim.

Confira a seguir mais detalhes da programação de Inhotim:

Galeria Praça | Isaac Julien
 

Em um trabalho que une poesia e imagem, Isaac Julien parte de uma exploração lírica sobre o mundo privado do poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e colunista afro-americano Langston Hughes (1902 – 1967) e seus colegas artistas e escritores negros que formaram o Renascimento do Harlem — movimento cultural baseado nas expressões culturais afro-americanas que ocorreu ao longo da década de 1920.

Isaac Julien. Stars (Looking for Langston Vintage Series), 1989/2017. Cortesia do artista e de Victoria Miro.
Clique aqui para acessar outras imagens


A obra foi dirigida por Julien na época em que era membro da Sankofa Film and Video Collective, e contou com assistência do crítico de cinema e curador Mark Nash, que trabalhou no arquivo original e pesquisa cinematográfica.

Looking for Langston também é considerado um trabalho fundamental para estudos afro-americanos e, nos últimos 30 anos, tem sido amplamente apresentado em universidades, faculdades e escolas de arte norte-americanas.

“Em 1954, Langston Hughes trocou correspondências com Abdias Nascimento, autorizando o Teatro Experimental do Negro a encenar suas peças. Nesse sentido, tanto Hughes, Abdias e Isaac Julien, cada um à sua época, buscavam representatividade e reconhecimento da produção artística e intelectual negra”, diz Julieta González, diretora artística do Inhotim.

A investigação sobre personalidades proeminentes do século 20, como Langston, é uma constante na obra de Isaac Julien. O artista se debruça sobre a vida destas figuras a fim de revisitar as narrativas históricas oficiais.

Nome seminal da arte contemporânea, Julien nasceu em 1960 em Londres, onde vive e trabalha, e utiliza em sua obra elementos provenientes de disciplinas e práticas variadas, como o cinema, a fotografia, a dança, a música, o teatro, a pintura e a escultura, integrando-os em instalações audiovisuais, obras fotográficas e documentários.

Acervo em Movimento | Arjan Martins e Laura Belém

São latentes nas obras de Arjan Martins conceitos sobre migrações e outros deslocamentos de corpos e presenças entre espaços de luta e poder, e ainda as diásporas e os movimentos coloniais que se deram em territórios afro-atlânticos.

Na instalação de Birutas (2021) – apresentada no caminho entre a obra Piscina (2009), de Jorge Macchi e A origem da obra de arte (2002), de Marilá Dardot – Arjan expõe aparelhos destinados a indicar a direção dos ventos, que se fundem às bandeiras marítimas e seus códigos internacionais para transmitir mensagens entre embarcações e portos.

Arjan Martins, Instalação de birutas, 2021. Foto: cortesia do artista e da galeria A Gentil Carioca
Clique aqui para acessar outras imagens


“Na fusão desses dois elementos, birutas e bandeiras náuticas, Arjan trata do trânsito de corpos através dos oceanos, do tráfico de pessoas escravizadas e das diásporas causadas pelos movimentos coloniais”, explica Douglas de Freitas, curador do Inhotim.

No lago entre as Galerias Mata e True Rouge, o visitante vai se deparar com dois barcos a remo equipados com holofotes que se iluminam, frente a frente, na água. As luzes de um dos barcos se acendem, enquanto as do outro permanecem apagadas. Após 20 segundos, eles invertem: o que estava aceso agora se apaga, e o que estava apagado se acende. As luzes de ambos os barcos são então acesas simultaneamente e, ao final, todas se apagam até o ciclo se reiniciar automaticamente. Trata-se de Enamorados (2004), trabalho da artista mineira Laura Belém, exposto pela primeira vez em 2004 na lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, e no ano seguinte na 51ª Bienal de Veneza.

“A ideia de ciclos, passagem de tempo e certa teatralidade fantástica são elementos recorrentes na produção da artista. Em Enamorados, agora instalada no lago em frente à Galeria True Rouge, esses elementos se apresentam para construir uma narrativa de flerte, onde dois corpos acenam um ao outro, se iluminam e se apagam, se comunicam silenciosamente sem nunca se tocar”, reflete Freitas.

Laura Belém, Enamorados, 2004. Foto: Pedro MottaInhotim
Laura Belém, Enamorados, 2004. Foto: Pedro Motta
Cliquei aqui para acessar outras imagens

O Acervo em Movimento nasce do desejo do Inhotim em se manter como um lugar vivo, em constante transformação, trazendo ao público as novas aquisições do acervo.

Inhotim Biblioteca | Jaime Lauriano

A pesquisa de Jaime Lauriano, artista paulistano que vive entre São Paulo e Lisboa, busca trazer à superfície traumas históricos relegados ao passado e aos arquivos confinados, em propostas de revisão e reelaboração coletiva da História. Marcando a estreia do Inhotim Biblioteca, o artista apresenta uma ocupação de ativação na biblioteca do Instituto, estabelecendo diálogo com o Segundo Ato de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra — projeto realizado pelo Inhotim em parceria com IPEAFRO, em cartaz na Galeria Mata.

“A proposta é procurar imaginar bibliotecas possíveis e como uma biblioteca pode se desdobrar”, conta Julieta González. “E a ocupação é um jeito de ativá-la, além de ser um recurso para pensar a relação com comunidades locais”, completa.

O Inhotim Biblioteca trará ao público um espaço coletivo e aberto voltado à leitura a partir de um recorte bibliográfico, visual e sonora proposta por Jaime Lauriano, afim de construir uma coleção voltada ao pensamento pan-africanista.

Para além de trazer exposições e disponibilizar material para pesquisa, o programa irá promover leituras mediadas e encontros entre artistas e pesquisadores com o público.

Galeria Mata | Segundo Ato de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra

Em curadoria conjunta com o IPEAFRO (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros), o Inhotim sedia um museu dentro de seu espaço e traz, ao longo de dois anos, a iniciativa sonhada por Abdias Nascimento (1914-2011) no início da década de 1950: o Museu de Arte Negra.

O projeto parte do legado multidisciplinar de Abdias, poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário, pan-africanista e parlamentar com uma longa trajetória trilhada no ativismo e na luta contra o racismo. Apresentado em quatro atos — quatro exposições temporárias, renovadas a cada cinco meses -, a realização do projeto no Inhotim se constrói com base nos aspectos de quatro Orixás, presenças constantes nas pinturas do artista, e na história e desdobramentos do Museu.

Sob o signo de Oxóssi, guardião das matas e Orixá do trono do conhecimento, o Segundo Ato do projeto, intitulado Dramas para negros e prólogo para brancos, abarca um período marcado pelo teatro na formação artística e política de Abdias Nascimento, e na concepção inicial da coleção do Museu de Arte Negra, de 1941 até 1968 – ano em que Abdias iniciou o exílio nos Estados Unidos e na Nigéria.

Exibida na Galeria Mata, a mostra aborda o Teatro Experimental do Negro (TEN), uma iniciativa da qual nasceu o Museu de Arte Negra. Criado por Abdias Nascimento em 1944, no Rio de Janeiro, o TEN tinha como propósito central conquistar espaço para pessoas negras nas artes cênicas.

A exposição traz ao público documentos sobre a trajetória do Teatro Experimental do Negro, pinturas de Abdias e trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, Heitor dos Prazeres, Iara Rosa, José Heitor da Silva, Sebastião Januário, Octávio Araújo e Yêdamaria, que integram a coleção do Museu de Arte Negra do IPEAFRO.

Abdias Nascimento, A flecha do Guerreiro Ramos: Oxóssi, 1971. Coleção Museu de Arte Negra – IPEAFRO | Inimá de Paula, Retrato de Abdias Nascimento Filho, Rio de Janeiro, 1967. Coleção Museu de Arte Negra – IPEAFRO | Emanoel Araújo, Mulher com frutas na cabeça,1966. Coleção Museu de Arte Negra – IPEAFRO
Clique aqui para acessar outras imagens



Em oito núcleos temporais (1941 — Viagem América Latina / 1943 – Teatro do Sentenciado / 1944 – Teatro Experimental do Negro / 1950 – 1º Congresso do Negro Brasileiro / 1955 – Cristo Negro / 1968 – MAN no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro / 1966 – Festival Mundial das Artes Negras, Dacar – Senegal / 1968 – Exílio), o Segundo Ato apresenta uma ampla pesquisa documental e propõe um novo olhar para a coleção Museu de Arte Negra, hoje sob a guarda do IPEAFRO. O foco é a importância da coleção enquanto ferramenta para a valorização e o reconhecimento dos valores ancestrais africanos na sociedade brasileira.

José Medeiros, Heloísa Hertã e Matilde Gomes (filhas de santos), 1957. Acervo Abdias Nascimento — IPEAFRO

As atividades do Teatro Experimental do Negro perduraram até 1968 e foi dentro de uma delas, o 1º Congresso do Negro Brasileiro, realizado na cidade do Rio de Janeiro em 1950, que surgiu o projeto Museu de Arte Negra.

Segundo Elisa Larkin Nascimento, escritora, curadora e diretora do IPEAFRO , “para contar a história de Abdias Nascimento e das organizações que ele fundou, entre elas o Museu de Arte Negra, é imprescindível recorrer ao acervo que o artista deixou e que nós do IPEAFRO temos a missão de zelar, organizar e difundir. O Segundo Ato acerta ao propor esse diálogo entre os documentos de acervo, as pinturas de Abdias Nascimento e as obras artísticas reunidas na coleção Museu de Arte Negra do IPEAFRO.

Assim, conseguimos mostrar a dimensão política da arte e da abordagem curatorial propostas e realizadas por Abdias Nascimento no projeto Museu de Arte Negra. Para ele – e de acordo com a tradição filosófica e o modo de viver ancestral africana -, a arte faz parte da vida em comunidade, integra as relações humanas e a interação do ser humano com o ambiente, o planeta e o cosmos. Ela se relaciona obrigatoriamente com a política, que informa e molda essas relações. Não existe, nessa tradição, a arte pela arte, produção meramente de objetos monetizados. Para esse artista e seu povo, a arte é parte integral da sociedade e se relaciona profundamente com o cotidiano, a vida e o amor”.

“A pintura de Abdias Nascimento remete às origens de sua formação como artista e intelectual, que se dá a partir dos anos 1930. Primeiro no teatro, atuando e dirigindo. Depois, como curador do Museu de Arte Negra. Passa por sua intensa pesquisa e troca com artistas e intelectuais dentro e fora do mundo negro.

Quando começa a pintar no Rio de Janeiro, em 1968, e intensifica a sua produção no exílio, Abdias Nascimento rapidamente manifesta uma técnica refinada que, aliado ao seu axé verbal, amplia a ressonância de seu discurso político de valorização da matriz africana no mundo e denúncia do genocídio do negro brasileiro, causas que pautaram a sua vida e obra”, explica Julio Menezes Silva, jornalista, curador e pesquisador do IPEAFRO.

INHOTIM – Informações gerais

Inauguração da programação Território Específico 2022

– Galeria Praça
Looking for Langston, individual de Isaac Julien

– Acervo em Movimento
Obras de Arjan Martins e Laura Belém

– Inhotim Biblioteca
Ocupação de Jaime Lauriano
– Galeria Mata
Segundo Ato de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra: Dramas para negros e prólogo para brancos

Abertura: 28 de maio, sábado, das 9h30h às 17h30
 

Funcionamento Inhotim


Horários de visitação: de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30

Entrada R$ 44 inteira (meia-entrada válida para estudantes identificados, maiores de 60 anos e parceiros). Crianças de até cinco anos não pagam entrada.
 

Localização: O Inhotim está localizado no município de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte (aproximadamente 1h15 de viagem). Acesso pelo km 500 da BR381 — sentido BH/SP. Também é possível chegar ao Inhotim também pela BR-040 (aproximadamente 1h30 de viagem). Acesso pela BR-040 – sentido BH/Rio, na altura da entrada para o Retiro do Chalé.
 

Opções de transporte regular: Transfer — a Belvitur, agência oficial de turismo e eventos do Inhotim, oferece transporte aos sábados, domingos e feriados, partindo do hotel Holiday Inn Belo Horizonte Savassi( Rua Professor Moraes, 600, Funcionários, Belo Horizonte). É preciso comparecer 15 minutos antes para o procedimento de embarque e conferência do voucher.

Horário de saída do hotel: 8h (duração estimada da viagem: 1h30)
Horário de retorno: 17h30 (final de semana/feriado), na saída do estacionamento do Inhotim.

Valor: R$ 95,00 (ida e volta)

Contatos: 31 3290-9180; inhotim@belvitur.com.br

Veja mais informações sobre o transfer clicando aqui

Ônibus Saritur — saída da Rodoviária de Belo Horizonte de terça a domingo, às 8h15 e retorno às 16h30 durante a semana e 17h30 aos fins de semana e feriados. R$ 41,50 (ida) e R$ 37,15 (volta).
 

Loja do Inhotim

A loja do Inhotim, localizada na entrada do Instituto, oferece itens de decoração, utilitários, livros, brinquedos, peças de cerâmica, vasos, plantas e produtos da culinária típica regional, além da linha institucional do Parque. É possível adquirir os produtos também por meio da loja online.

Saiba tudo que acontece na Revista Empório

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Textos Interessantes

Você também pode se interessar

Headline

Never Miss A Story

Get our Weekly recap with the latest news, articles and resources.
Cookie policy
We use our own and third party cookies to allow us to understand how the site is used and to support our marketing campaigns.